FOLÍCULO PILOSO

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domingo, 8 de dezembro de 2013

Alopecia areata e a teoria do colapso do privilégio imunológico




A publicação New England Journal of Medicine trouxe, no último mês de abril, um excelente artigo de revisão sobre alopecia areata escrito por Gilhar, Etzioni e Paus.

No artigo encontramos uma excelente explicação sobre a teoria do colapso do privilégio Imunológico que já havia sido apresentada em outros trabalhos de Paus ao longo dos últimos anos, como apresentado na figura abaixo extraída do próprio artigo.

Privilégio: imunológico é a capacidade de nossas células imunológicas reconhecerem as células de nosso corpo como sendo nossas e não como sendo estranhas. Essa capacidade é o que garante que nosso sistema imunológico não ataque as células de nosso próprio corpo e que só combata células tumorais ou células estranhas (bactérias, vírus, fungos).

No paciente com predisposição ao colapso do privilégio imunológico, há uma maior susceptibilidade de algumas de nossas células de perderem a capacidade de expressarem na superfície de suas membranas informações que são reconhecidas pelas células imunológicos de nosso corpo como sendo nossas. No caso de pacientes com alopecia areata, esse parece ser um dos motivos para o aparecimento do problema.

Os chamados agentes coestimulantes, como traumas, infecções e estresses, afetando o comportamento de mediadores químicos e, com a colaboração de algumas células do sistema imunológico (mastócitos, linfócitos CD8 + e células NK), acabam interferindo negativamente no processo para que aconteça o colapso do privilégio imunológico e o não reconhecimento das células dos folículos pilosos.

Em virtude disso o nosso sistema de defesa ataca os folículos de forma agressiva, em especial os folículos em fase de crescimento chamados de anágenos. Uma peculiaridade da alopecia areata é que o processo só acontece em folículos anágenos, ou seja, em folículos que estão promovendo crescimento capilar, interrompendo esse crescimento abruptamente e causando a perda de cabelos que caracteriza o quadro.
O melhor entendimento dessa teoria de colapso do privilégio imunológico pode ser um novo caminho para o surgimento de tratamentos mais efetivos para a doença, que ainda assusta muitos pacientes.

Há tempos venho acompanhando os estudos sobre a participação do colapso do privilégio imunológico nos casos de alopecia areata e posso dizer que sou um entusiasta do assunto, pois entendo que ele poderá trazer um novo prisma de opções de tratamentos para o problema.

Referências:
Gilhar A, EtzioniA, Paus R. Alopecia Areata. N Engl J Med. 2012;366:1515-1525.

Queda Capilar Após Quimioterapia


A queda capilar que ocorre após alguns tratamentos quimioterápicos é um efeito colateral relativamente frequente. Apesar de ser uma situação inerente ao tratamento de variados tipos de tumores, a queda capilar por quimioterapia é considerada traumática e assustadora pela maioria dos pacientes que passa pelo problema.

Muitos são os quimioterápicos envolvidos neste processo, veja lista abaixo:
Infelizmente, a queda capilar como consequência da quimioterapia pode ser intensa. Em pacientes que já estão com a parte psíquica comprometida em virtude de estar tratando de tumores ainda ter de passar pela queda capilar acaba sendo uma grande provação.

Se em condições normais de saúde a queda capilar já envolve situações de ansiedade, depressão e comprometimento da autoestima, em casos como os de pacientes que passam pela quimioterapia o sofrimento costuma ser ainda mais intenso.

Ao que parece, poucos são os métodos que envolvem uma maior proteção do paciente quanto a este tipo de queda capilar. Segundo alguns autores, o minoxidil pode reduzir a intensidade e o tempo de duração da alopecia causada pela quimioterapia. Outros estudos confirmam que o uso de mecanismos que geram resfriamento da pele do couro cabeludo parecem ser eficiente para diversos tipos de agentes quimioterápicos.

Dentro do ponto de vista profissional e pessoal me solidarizo muito com quem está vivenciando esta experiência. Acredito que ajudar o paciente no que diz respeito às questões de recuperação mais acelerada dos cabelos é uma medida que deve ser tomada sempre, e associada ao apoio psíquico.

Quando o insucesso no controle da queda de cabelos for inevitável não vejo problemas nenhum em o paciente utilizar métodos cosméticos (próteses) para camuflar a perda capilar. Estes métodos permitem um maior conforto ao paciente quando em convívio social e ajudam a manter a autoestima menos comprometida.
Quanto ao resfriamento de couro cabeludo, creio ser uma ótima e segura opção, apesar de não ser um método garantido para evitar o problema.
Não há conflito de interesses entre o autor deste texto e qualquer uma das medicações citadas para o tratamento de tumores.
O autor é contra a automedicação e sugere sempre que seja procurado um médico antes do uso de qualquer medicamento para qualquer tipo de problema capilar.

Referências:
Tosti A, Pazzaglia M. Drugs Reactions Affecting Hair: Diagnosis. Dermatol Clin. 2007;25:223-231.
Auvinen PK. The effectiveness of a scalp cooling cap in preventing chemotherapy-induced alopecia. Tumori. 2010;96(2): 271-275.
Trüeb RM. Chemotherapy-induced alopecia. Semin Cutan Med Surg. 2009;28(1):11-14.

Cirurgia bariátrica e queda de cabelo


Durante os anos de 2005 a 2008, estive junto com os profissionais de cirurgia da Obesidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo como médico pesquisador. Sob a supervisão do Dr. Arthur Belarmino Garrido e com a ajuda da equipe de psicologia do serviço, em especial da psicóloga e professora Marlene Monteiro, me deparei com um conjunto vasto de situações que me chamaram muito a atenção.

Em primeiro lugar, percebi que as técnicas de cirurgia que tornam mais difíceis a digestão e a absorção de alguns alimentos, por conta de uma menor capacidade de ingestão alimentar por parte dos pacientes, acabavam sempre causando perda de cabelos.

Que fique claro algo importante: nem todos os pacientes que fazem a cirurgia tem queda de cabelos após o procedimento, mas uma boa porcentagem, eu diria que em torno de 70% deles, acabam desenvolvendo este quadro.

Nesse período pude fazer estudos com pacientes que tinham feito a cirurgia há mais de dois anos e, em muitos casos, por conta do perfil alimentar desses pacientes, a queda de cabelo continuava presente.

Os pacientes mais problemáticos são aqueles que não seguem as orientações da equipe de cirurgia após o procedimento. Como os pacientes passam a ter um processo de má absorção de nutrientes de forma crônica, é natural que precisem de suplementos nutricionais, vitamínicos e minerais para a manutenção da saúde. Esta suplementação era frequentemente abandonada pelos mesmos, favorecendo complicações a médio e longo prazo, inclusive no que diz respeito às questões capilares.
Tive também a oportunidade de avaliar o uso de determinados aminoácidos e do laser de baixa potência em muitos casos de queda capilar de pacientes bariátricos. Os resultados foram muito interessantes, trazendo benefícios importantes em qualidade e quantidade de cabelos.

Os estudos que fizemos com os pacientes de cirurgia da obesidade no HC-FMUSP foram pioneiros no Brasil e pude apresentar muitos deles em eventos como o RADLA (Reunião Anual de Dermatologistas Latino-americanos), IFSO (International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic Disorders), Conferência Anual da International Association of Trichologists, 6th World Hair Research Congress, European Hair Research Congress e no Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
Apesar de não participar mais como pesquisador nessa área, ainda hoje posso aplicar na prática de meu consultório muitas das orientações que foram efetivas para a recuperação dos cabelos de pacientes bariátricos que constatei naquela época. Isso me ajuda muito nos cuidados com os meus pacientes que passaram pela cirurgia e chegam a mim com problemas de perda de cabelos.

Queda de cabelo em pacientes em tratamento antiviral para hepatite C



Recentemente atendi uma paciente que apresentou quadro de eflúvio telógeno agudo severo após terapia antiviral para tratamento de hepatite C. Por não serem pacientes tão frequentes (atendo poucos desses casos por ano) entendo que é sempre importante verificar o que a literatura médica nos trás de significativo para que possamos entender melhor o problema e, consequentemente, colaborar para a melhora do paciente com esse tipo de quadro.

Acabei encontrando a associação de quadros de quedas de cabelos com os principais medicamentos utilizados nos tratamentos antivirais da hepatite C, como ribavirina e terapias com interferons.

Na grande maioria dos artigos que pesquisei para me informar melhor sobre o problema, a queda capilar aparece relatada mais tardiamente do que no início da medicação. Como é comum a todo eflúvio, costuma continuar presente mesmo com a interrupção do contato do paciente com o fator causal de queda, portanto, podendo ainda incomodar o paciente por até cerca de oito meses depois de finalizado o tratamento.

Como todo eflúvio telógeno, a eliminação da causa por si só é uma das formas de solução do problema, mas é comum aos pacientes uma certa ansiedade e medo do quadro evoluir para uma calvície mais ampla e de a recuperação ser lenta e gradativa.

Ao constatar o problema após a história clínica e exame físico, entendo que o melhor a fazer nesses casos é utilizar técnicas que se baseiam na biomodulação e com isso acelerar a recuperação capilar. Apesar de sabermos das limitações nos resultados, visto que o cabelo tem seu tempo para voltar a nascer com saúde, é possível conseguir uma certa antecipação da melhora capilar e uma redução da ansiedade do paciente e consequente aumento da autoestima.

Por fim, vale lembrar que em virtude da gravidade da hepatite C e da seriedade do tratamento do problema, cabe ao médico que cuida de cabelos estar sempre atento para evitar efeitos colaterais e reações adversas nos pacientes que estão recentemente se recuperando de uma terapia como esta.

Referências:
Brett Hauber A, et al. Patient preferences and assessment of likely adherence to hepatitis C virus treatment. J Viral Hepat. 2011;18(9):619-27.
Shafa S, Borum ML, Igiehon E. A case of irreversible alopecia associated with ribavirin and peg-interferon therapy. Eur J Gastroenterol Hepatol.2010;22(1):122-3.