Arqueologistas descobriram em papiros egípcios, como os de Ebers e
Hearst fórmulas datadas de 4.000 aC para combater a calvície. Dentre
elas 3 se destacavam. A primeira consistia em cozinhar pata de cachorro
com casco de asno e fazer uma mistura com óleo. A segunda preconizava
uma mistura de partes iguais de gordura de leão, hipopótamo, crocodilo,
ganso, cobra e cabrito montês e finalmente a terceira usava dente de
asno triturado em óleo. Estas fórmulas eram usadas friccionando
diretamente no couro cabeludo.
Cleópatra não gostava da calvície
de
Júlio César, e o obrigava a usar fórmulas à base de rato
doméstico
cozido, dente de cavalo, gordura de urso e medula de cervo. O
egípcio Hakiem-El-Demagh, considerado o primeiro especialista em doenças
do
couro cabeludo, idealizou várias fórmulas para a AA e o próprio
Hipócrates em seu respectivo tempo receitava para quadros
iniciais
massagens de láudano com óleo de rosa, de linho ou de oliva
verdes. Em
casos mais avançados prescrevia cataplasma à base de cominho,
fezes de
pombo, alho socado e urtiga. Por toda a idade média vários
medicamentos
foram sugeridos, inclusive urina de cachorro, poções dos mais
variados
animais, e infusões de inúmeros vegetais, e até rituais de
exorcismo.
Porém, uma fórmula que se tornou muito famosa, foi idealizada
por volta
do ano de 1.600, e era feita de várias plantas medicinais,
vinho,
semente de rabanete, bago de uva, óleo de linhaça, trigo, etc.
Esta
fórmula foi adotada na época pelo exército alemão, porém
adicionaram
saliva de cavalo como complemento. Enfim, em todos os tempos
sempre
houve preocupação com o tratamento da AA, obviamente as portas
foram
abertas para a exploração comercial e não deixaram de existir os
aproveitadores, charlatões, curiosos e inúmeras outras
modalidades de
promessas de cura para a doença.
PRIMEIROS ESTUDOS
Hipócrates há 460 aC observou que crianças e eunucos não desenvolviam
AA. Estudos científicos sobre a doença, tomaram impulso com os trabalhos
de J.B.Hamilton, que no início da década de 40, mostrou que a AA não
desenvolvia antes da puberdade, em eunucos e em pacientes que por um
distúrbio hormonal qualquer não produziam a testosterona. Além do mais
os pacientes sempre tinham um ancestral calvo. Daí concluiu que a AA é
resultante da ação do hormônio masculino, a testosterona, em folículos
pilosos geneticamente predispostos. Estudos bioquímicos mostraram que a
testosterona, em nível de folículo piloso, sofre a ação de uma enzima
redutora a 5 alfa redutase que a transforma na dehidrotestosterona, que
teria uma ação ativa sobre o folículo piloso, provavelmente inibindo a
adenilciclase com conseqüentes distúrbios metabólicos locais levando à
AA.
TRATAMENTO DA ALOPECIA ANDROGENÉTICA
Neste trabalho, serão discutidos os principais tratamentos
medicamentosos da AA para o homem. A calvície na mulher assume algumas
características próprias tanto do ponto de vista clínico, etiológico
como terapêutico, por isso merece um capítulo à parte.
Pela própria etiopatogenia da AA as drogas ideais seriam aquelas que de
alguma forma inibissem a ação dos hormônios sobre os folículos pilosos.
Estas drogas seriam os antiandrógenos. Segundo Dorfman, um antiandrógeno
seria uma “substância que inibiria a expressão de um andrógeno em sua
célula alvo sem interferir na sua síntese e nem em seu controle via
hipotálamo ou hipófise”.
Teoricamente um antiandrógeno pode agir em vários locais: inibir a
síntese da enzima 5 alfa redutase; inibir a ação desta enzima sobre a
testosterona ou competir diretamente com a dehidrotestosterona junto aos
receptores celulales. Pelo que se sabe, não existe um antiandrógeno
puro, ou seja, que tenha uma ação específica em um destes locais.
Geralmente eles tem maior ação sobre uma passagem hormonal, mas podem
agir em todos os níveis. Antiandrógenos como acetato de ciproterona,
benorterone, flutamida e outros não são usados no homem. Um inibidor da
5 alfa redutase, a finasteride (PROPECIA) é uma medicação nova no
mercado e estudos clínicos são bastante encorajadores, porém seus
efeitos colaterais merecem atenção. Outra medicação que agiria sobre a
mesma enzima seria o TUROSTERIDE. A ESPIRONOLACTONA também tem sido
usada como antiandrógeno, e em alguns casos com boa resposta
terapêutica, e também como todo antiandrógeno deve ser dada com cautela.
Um antiandrógeno que tem merecido destaque pela sua ação benéfica e por
ser de uso tópico é o RU58841, que em breve deverá ser comercializado.
Um redutor do colesterol, com fraca ação antiandrógena também tem sido
testado, é o SIMVASTIN.
Embora à primeira vista a etiopatogenia da AA parece estar claro, é
curioso como uma infinidade de medicamentos tem sido lançados para o seu
tratamento e com as mais diversificadas ações, e a maioria deles sem a
menor relação com atividades hormonais, porém seus resultados clínicos
são surpreendentes.
Foi suposto que o óxido nítrico estimula o crescimento dos cabelos.
Radicais superóxidos, resultantes do metabolismo, inibem o óxido
nítrico, induzindo a fase telógena com conseqüente queda do fio de
cabelo. Um grupo de substâncias conhecido como superóxido dismutases
inibe os radicais superóxidos, liberando o óxido nítrico, recuperando a
fase anágena, obviavente restituindo o ciclo biológico normal dos
cabelos por restaurar a fase anágena. Os principais superóxido
desmutases são à base de cobre ligado a um pepitídeo, e entre eles posso
citar FOLLIGEN, TRICOMIN, IAMIN, GRAFTCYTE e TEMPOL. Dentro desta
modalidade de tratamento, é preconizado o uso com medicações que
contenham a L-ARGININA. Este aminoácido, considerado não essencial, é um
precursor do óxido nítrico, logo sua presença é fundamental para a
síntese e manutenção de níveis adequados de óxido nítrico. Algumas
medicações podem imitar a ação do óxido nítrico e dentre elas a mais
conhecida é o minoxidil (REGAINE), um produto usado contra hipertensão,
cujo efeito colateral freqüente é a hipertricose, daí o seu
aproveitamento para o tratamento da calvície. Outras drogas semelhantes
ao minoxidil, do grupo piridine N-óxidos, são o NANO, DILANTIN,
PROXIPHEN-N e o DIAZÓXIDO, este último muito pesquisado no Japão.
Uma proposta interessante para explicar a AA, é a teoria de que uma
fibrose perifolicular altera a fisiologia do folículo piloso levando-o à
atrofia com conseqüente calvície. Foi criada uma substância que seria
uma “molécula antifibrose”, que reverteria esta fibrose recuperando o
folículo, seria o aminexil(DERCAP) que tem se destacado no mercado
francês.
Alguns autores acreditam que a dehidrotestosterona de alguma forma
altera o folículo piloso, estimulando o sistema imunológico a agredi-lo,
levando a uma inflamação local. Seria a teoria imunológica da AA, fato
que explicaria melhora da calvície quando se usa a CICLOSPORINA ou
outros imunossupressores.
Finlandeses descobriram grandes quantidades de testosterona e
dehidrotestosterona ativos na secreção sebácea e afirmaram que uma
potente substância desengordurante (POLISORBATE 60 e o POLISORBATE 80)
ajudaria no combate à calvície pois removeria aqueles hormônios.
Loções à base de ervas também são tradicionais. Estudos científicos bem
controlados com um produto feito com ervas chinesas(FABAO) tem dado bons
resultados. Este medicamento está sendo produzido comercialmente na
Holanda com o nome de DABAO.
Drogas que agem no metabolismo celular, em particular o do potássio, que
estimula a síntese de DNA, o BRL34915 (CROMAKALIM), e o
pinacidil(PINDAC), segundo seus pesquisadores agem beneficamente nos
pacientes com AA.
Agentes inibidores da aromatase, como o aminoglutetimide (CYTADREN)
também tem sido citadas.
Uma teoria ainda não muito clara e confusa, porém com notável
sensacionalismo, seria o tratamento genético, que promete “cura” para a
calvície. Seria o LIPOSOMAL GENE THERAPY, produzido nos EEUU pelo
AntiCancer, Inc.
PILIEL um remédio de ação angiogênica descoberto em Israel, obtido a
partir de extrato de cultura de células, tem merecido grande atenção,
pois além de deter a progressão da calvície, engrossa os cabelos e para
surpresa de seus próprios descobridores, a medicação estimula a
melanogênese e os cabelos quando brancos recuperam sua cor natural.
Uma substância chamada “saw palmetto” extraída de uma planta natural da
Flórida a Serenoa Repens, tem uma ação antiandrogênica muito parecida
com a finasteride, porém além de inibir a 5 alfa redutase também inibe
da dehidrotestosterona, e é comercializada com o nome de PERMIXON, para
hiperplasia benigna da próstata, e tem sido preconizada para o
tratamento da AA.
Inúmeros produtos à base de nutrientes tem sido testados. Entre eles
posso mencionar a biotina, Vitamina C, inositol, PABA, L-cisteína. Uma
associação de aminoácidos, vitaminas e cálcio, o PIL-FOOD, é dentro
deste grupo de substâncias a mais popular, porém parece ter pouca ação
sobre a calvície.
Medicações que agem sobre a circulação sanguínea também tem seu lugar no
arsenal terapêutico da calvície, uma vez que por muito tempo
acreditou-se que a vascularização do couro cabeludo era importante para
manutenção dos cabelos. Entre elas cito: ECRINAL, FOLICURE, FONTENE,
KEVIS, NUTRIOL, VIVAGEN E VIPROSTOL.
Uma droga angiogênica(OMEXIN), que aumentaria a oxigenação folicular,
também deve ser citada pela sua ação sobre a calvície.
Uma medicação desenvolvida na Finlândia, que tem merecido atenção pelo
seu efeito de estabilizar a queda de cabelos e promover uma boa
recuperação de cabelos na AA e isenta de efeitos colaterais, é
associação de um extrato de cartilagem de peixes com sílica(VIVISCAL). O
extrato de cartilagem é obtido de cartilagem de peixes cartilagenosos
marinhos como Raia e Lamna Cornubica e é rico em aminoácidos nobres. A
sílica é obtidida de uma planta conhecida popularmente como
shavegrass(horsetail), e em botânica como Equisetum arvense ,
considerada um reservatório natural de sílica e usada tradicionalmente
nos EEUU e Europa como “fortificante” para os cabelos e unhas.
CONCLUSÃO
Ainda não existe uma medicação ideal para o tratamento da calvície.
Dentro da literatura existem inúmeras drogas sendo comercializadas e
outras sendo testadas. Muitas delas com grandes esperanças e outras sem
menor expressão.
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