AAGAP
“Meu filho, o que é isso? Você pegou uma micose no barbeiro?”
“Acho que aquela moça tem câncer!! Coitada!!”
“Não, rapaz, isso é doença emocional!!!”
Essas e outras manifestações nos
chegavam aos ouvidos quando fomos tomando contato com pacientes
portadores de alopecia areata. Junto com elas, o susto, o pavor, a
insegurança, a depressão. Esse quadro nos sensibilizou, nos comoveu.
Passamos a conversar com essas pessoas tentando olhar além da sua falta
de cabelos. E uma nova experiência teve início.
Tomando como base as dúvidas a respeito
da origem da doença, das possibilidades de evolução, do resultado e
riscos dos tratamentos, iniciamos encontros com os pacientes em momentos
específicos. Escolhemos os sábados pela manhã, uma vez por mês, quando
passamos a nos colocar à disposição desses pacientes para ouvir deles
suas questões, suas aflições, suas necessidades. Isso tudo aconteceu no
ano de 2003, quando a Profa.Dra. Alice Alchorne era presidente da
Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional de São Paulo. Partiu
dela o convite para que fosse criado oficialmente um chamado “Grupo de
Apoio”, e assim se fez. Nessa época já trabalhava conosco a psicóloga
Simone Godinho e nós nos tornamos as coordenadoras desses encontros. Por
circunstâncias profissionais, infelizmente, após alguns anos a
psicóloga Simone não pôde mais acompanhar o trabalho, mas indicou o
psicólogo César Rosolen Jorge, que esteve conosco até o ano de 2010,
trazendo enorme contribuição para o grupo. Porém, também por motivos
profissionais, não poderemos mais contar com a sua presença.
Hoje, três dermatologistas (Dra.Enilde
Borges Costa, Dra.Ideli Cristhina Neitzke e Dra.Maria Natália Souza) e
uma psicóloga (Psic.Maria Cristina Hohl) compõem a nossa equipe. Já
iniciamos um sub-grupo formado pelas crianças que freqüentam a reunião, e
que são coordenadas pela psicóloga Cristina Hohl.
Já se vão oito anos, e hoje podemos fazer
um balanço dessa experiência. Temos registro de mais de 150 pessoas que
passaram pelo Grupo, entre pacientes, familiares e amigos. As reuniões
vêem acontecendo regularmente todos os meses, com alguns intervalos em
período de férias. Junto com os pacientes pudemos conhecer seus
familiares e amigos, estimular a solidariedade entre eles, além de
despertar em todos o desejo de se tornar multiplicadores de informações
para a sociedade.
Aos poucos fomos nos surpreendendo com o
alcance e desdobramento dos nossos encontros. Surgiram pacientes de
Curitiba, Florianópolis, Belo Horizonte, Brasília, Belém. Os próprios
pacientes criaram meios de comunicação pela Internet e passaram a surgir
pessoas que nos “descobriram” através desse caminho.
Várias histórias de vida foram surgindo a
todo o tempo. E novas amizades e momentos de solidariedade foram sendo
criados pelos próprios participantes.
Trouxemos programas especiais em vários
momentos, principalmente nas reuniões de final de ano. Entre esses
programas lembramos um grupo de violonistas e flautistas com sambas e
chorinhos, uma contadora de histórias, uma cantora de música popular e,
até, para nossa surpresa, a atriz Marisa Orth, que é paciente de
alopecia areata e se dispôs a participar de uma reunião, contando sua
história com a doença.
Diante dessa experiência, é nosso desejo
que mais profissionais se envolvam nessa atividade e que outros grupos
se formem, em outros espaços, para que possamos ir semeando um outro
modo de encarar assuntos como saúde, doenças, doentes, profissão,
preconceitos, solidariedade, vida.
(Texto enviado por Dra. Enilde Borges)
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